A depressão faz parte da nossa vida?
- romagon2076
- 18 de set. de 2023
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Fonte: Freepik
O estado de saúde mental em seres humanos, nos pareceres da Organização Mundial da Saúde (OMS), é viver num bem-estar com a autonomia em realizar suas capacidades de modo a superar o estresse normal da vida, envolve em ser produtivo e colaborativo com a sua comunidade.[1]
É importante afirmar no que tange na nossa Constituição Federal que, “a saúde é direito de todos e dever do Estado”,[2] a saúde mental é um direito básico e fundamental.[3] No entanto, este direito parece não acessar a todos. O Brasil é o país com maior prevalência de depressão, conforme a Organização Pan-Americana da Saúde, essa é a principal causa de incapacidade em todo o mundo.[4]
Infelizmente “a depressão é um transtorno comum em todo o mundo: estima-se que mais de 300 milhões de pessoas sofram com ele”.[5]
A depressão, sendo de maior prevalência em mulheres do que nos homens,[idem] é um transtorno mental que, crônico e recorrente, pode causar um grande sofrimento ao indivíduo, envolvendo prejuízos no trabalho, no meio familiar e na comunidade, bem como aumentar o risco de suicídio.[6]
Segundo dados da “Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2030, a previsão é que a depressão seja a primeira causa específica de incapacidade funcional no mundo”. [idem]
Apesar de complexa e multifatorial (fatores sociais, psicológicos e biológicos,[5] a “sua manifestação clínica consiste em uma síndrome bem definida. Seus sintomas envolvem alteração no humor (triste ou disfórico), na cognição (memória, concentração e processamento de informações diminuídos além de desesperança e sensação de desamparo, ligados ao desemprego, luto, trauma psicológico e doenças orgânicas,[idem] sintomas comportamentais (isolamento social, lentificação psicomotora) e neurovegetativos (alteração de sono e apetite). ” [6] Mesmo que seus sinais e sintomas sejam definidos, no atendimento clínico a sua avaliação é imprecisa.[5] “Em países de todos os níveis de renda, pessoas com depressão frequentemente não são diagnosticadas corretamente e outras que não têm o transtorno são muitas vezes diagnosticadas de forma inadequada, com intervenções desnecessárias”.[idem]
Na psiquiatria, o transtorno depressivo é categorizado por “categorizado como leve, moderado ou grave, a depender da intensidade dos sintomas”.[idem] Na categoria leve deste tipo de transtorno, a pessoa mesmo com dificuldades consegue fazer suas atividades, seguir seus compromissos. Mas, com o decorrer do tempo, com a elevação do estresse e da disfunção nas atitudes, a piora pode acorrer e afetar, em muito, a vida da pessoa, deixando-a com depressão do nível grave, que não consegue, sequer, agir numa atividade doméstica.[idem]
Transtorno significa perturbação mental, de alterar, desorganizar, turvar o juízo. Depressão significa: estar nas profundezas.[7] Mesmo na gravidade, com os prejuízos, há pessoas que conseguem sobreviver a isso, como no caso de indivíduos ligados ao transtorno leve. Estas pessoas caminham, mesmo cansadas por sentirem um grande peso nas costas e, quanto maior o peso que sentem, mais difícil é para elas interagirem com o mundo externo, pois necessitam ficarem recolhidas o maior tempo possível.
Byington explica que a depressão pode ser normal ou fixada (patológica). Há pessoas que conseguem viver com a dita depressão normal. Uma pessoa assim “se desapega de qualquer outra ocupação para se concentrar no apego à elaboração das feridas existenciais e no desapego ao que está morrendo ou já morreu” e, segundo ele, este nível de depressão torna-se uma aliada no processo de cura. No caso da depressão fixada, a pessoa fica improdutiva, o seu processo de cura cessa e “o sepultamento do que já morreu se convertem em tortura pessimista e sádica, acompanhada por fantasias catastróficas de autodestruição”. [8] Byington também cita as influências na depressão: “O consumo a qualquer custo influenciado pelas mídias, a patologização e depreciação da depressão normal pela psiquiatria, que incentiva o consumo indevido de antidepressivos que bloqueiam atitudes de confronto da sombra e do desenvolvimento psíquico de elaboração e transformação para a cura. ” [idem]
Mas, o que fazer quando se está deprimido?
Abaixo segue dicas da Organização Pan-Americana da Saúde:[5]
· Converse com alguém de sua confiança sobre seus sentimentos.
· Procure ajuda. Seu profissional de saúde ou médico local são um bom lugar para começar.
· Permaneça conectado(a). Mantenha contato com familiares e amigos.
· Faça exercícios regularmente, mesmo que seja apenas uma curta caminhada.
· Mantenha hábitos alimentares e de sono regulares.
· Evite ou restrinja a ingestão de álcool e abstenha-se de usar drogas ilícitas; estas podem piorar a depressão.
· Continue fazendo coisas que você sempre gostou, mesmo quando não está com vontade.
· Esteja atento aos pensamentos negativos persistentes e à autocrítica e tente substituí-los por pensamentos positivos. Parabenize-se por suas conquistas.
Vale lembrar que, setembro é o mês Amarelo da conscientização e do cuidado com a saúde mental. Mês em que o Ministério da Saúde divulga uma série de conteúdos sobre o tema. [4]
Para finalizar, em 1959, Jung respondeu uma carta para uma mulher com depressão sobre o que faria caso tivesse este problema.
“... procuraria alguma ou mais pessoas que me parecessem amáveis, e me tornaria de certa maneira útil a elas para receber libido de fora, ainda que de uma forma algo primitiva como o fez, por exemplo, o cachorro, sacudindo o rabo.
Criaria animais e plantas, que me dessem alegria com o seu desenvolvimento. Eu me cercaria de coisas belas – não importa se primitivas ou simplórias – objetos, cores, sons. Comeria e beberia coisas gostosas.
Quando a escuridão viesse, não descansaria até penetrar em seu cerne e chão e até que aparecesse uma luz no meio do sofrimento, porque a própria natureza se inverte in excessu affectus. Eu me voltaria contra mim mesmo com raiva, para que no calor dela derretesse meu chumbo.
Renunciaria a tudo e me dedicaria à atividade mais humilde, caso minha depressão me forçasse à violência. Lutaria com o Deus sinistro até que me descolasse o quadril, pois ele também é a luz e o céu azul que retém diante de mim.
Seria isto o que eu faria. O que outras pessoas fariam é uma questão que não sei responder. Mas também para a senhora existe um instinto: arrancar-se para fora disso, ou entrar até as profundezas. Mas nada de meias-medidas ou meio entusiasmo. […]
Com votos cordiais, sinceramente seu (C.G.) ”. [9]
Estar ao redor de pessoas amáveis para alguns pode ser difícil, mas, sempre há pessoas que podem te ajudar, de maneira direta, como profissionais da saúde, ou de modo indireto, como os artistas poetas, músicos e escritores.
Encerro este artigo com um trecho sobre a solidão que a poetisa Cecília Meireles escreveu e ensinou que, a comunhão com tudo que existe, com a natureza ou coisas artificiais, nos ajuda a não sentirmos sós.
Trecho da crônica - “Da solidão” de Cecília Meireles
“...haverá na terra verdadeira solidão? Não estamos todos cercados por inúmeros objetos, por infinitas formas da natureza e o nosso mundo particular não está cheio de lembranças, de sonhos, de raciocínios, de ideias, que impedem uma total solidão?
Tudo é vivo e tudo fala, em redor de nós, embora com vida e voz que não são humanas, mas que podemos aprender a escutar, por muitas vezes essa linguagem secreta ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério...
Tudo palpita em redor de nós, e é como um dever de amor aplicarmos o ouvido, a vista, o coração a essa infinidade de formas naturais ou artificiais que encerram seu segredo, suas memórias, suas silenciosas experiências...”[10]

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1]Organização Mundial da Saúde. Plan de acción integral sobre salud mental 2013-2030 [Internet]. Genebra: OMS; 2013. Disponível em: https://www.who.int/es/publications/i/item/9789240031029 [2]Constituição Federal (Artigos 196 a 200) Seção II DA SAÚDE Art. 196. Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/14cns/docs/constituicaofederal.pdf [3]Organização Mundial da Saúde. Constitución de la Organización Mundial de la Salud [Internet]. Genebra: OMS; 1946. Disponível em: https://apps.who.int/gb/bd/pdf_files/BD_49th-sp.pdf#page=7 [4] Ministério da Saúde. Na América Latina, Brasil é o país com maior prevalência de depressão. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/setembro/na-america-latina-brasil-e-o-pais-com-maior-prevalencia-de-depressao#:~:text=Na%20Am%C3%A9rica%20Latina%2C%20o%20Brasil,que%20a%20depress%C3%A3o%20%C3%A9%20multifatorial [5]Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/depressao [6] POLANCZYK, C.A; BAEZA, F.L.C; RUSCHEL,K.B; FLECK,M.P.A; et al. ( Elaboração, disponibilização e informações MINISTÉRIO DA SAÚDE – Secretaria de Atenção Primária à Saúde) Acessado em: https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/depressao/definicao/ [7]JÚNIOR, B.A; ABIKO, A.K; AGNELLI, J.A.M; e col. Grande enciclopédia Larousse Cultural. [8]BYINGTON, C.A.B. A Depressão Normal e o Futuro da Civilização – IN: Revista Junguiana nº 25 [9] JUNG, C.G. Cartas, Vol. 3: 1956-1961. [10]MEIRELES, C. Janela mágica.
Até a próxima!

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